segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

O meu desporto radical

Como já referi em ocasiões anteriores não é fácil pedalar na neve. Mas, ao mesmo tempo, representa uma espécie de desafio que eu não me importo de superar uma e outra vez. O trajecto que as fotos mostram é o caminho que tomo três vezes por semana para a Middle School, onde estudam os alunos mais velhos.
Normalmente, faço o trajecto pelo passeio (se é que se pode chamar passeio aquilo, mas enfim), mas algumas partes são de terra batida. Às vezes, os caminhos estão completamente obstruídos e vejo-me mesmo obrigado a ir para a estrada, onde os carros prosseguem a sua inefável caminhada rumo a mais um dia de trabalho. Como eu, aliás. Os condutores na sua maioria, são educados e respeitam quer os ciclistas, quer os peões, o que é sempre de registar com agrado. Nem todos os países podem dizer o mesmo, infelizmente.
A sequência de fotos mostra a vinda de Middle School, uma vez que na viagem de ida não tenho tempo para andar a tirar fotos!!! Aliás, e nem sequer é de dia às 8h da manhã. Apesar disso, nos dias que correm já há alguma claridade, mas em Dezembro lembro-me claramente que estava ainda escuro como breu a essa hora. As fotos mostram também a muita neve que veio desde inícios de Janeiro e nunca mais abandonou a cidade. Já ando um pouco farto, diga-se de passagem. Adiante, perceberão porquê. Durante alguns dias os termómetros chegaram mesmo a passar dos 20 graus abaixo de zero. Nunca senti tanto frio como nesses dias. Tanto frio que até doía, mesmo agasalhado. Sem protecção suficiente, dedos, orelhas, nariz e afins, em menos de um minuto não passam de meras recordações. E a face fica toda vermelhusca, parece que estivemos a beber uns copos!! (o:
De igual forma, é muito mais difícl respirar a essas temperaturas, quanto mais fazer exercício. Na semana passada ao andar de bicicleta, tinha de fazer um esforço redobrado para inspirar a mesma quantidade de oxigénio e poder prosseguir ao mesmo ritmo. As fotos ilustram também um pouco o desleixo pelos peões. As máquinas limpa-neves fazem grandes montes de neve suja (um espectáculo muito pouco agradável de ver) e atiram com os restos para as bermas. O resultado é que muitas vezes os caminhos se tornam impraticáveis, estreitos, ou então, transformam-se em autênticas paisagens lunares. Estou um pouco desapontado com os noruegueses a este respeito, pois sei que em países com menos neve, as vias são rapidamente desobstruídas e rapidamente ficam em condições. Por aqui, vão ficando desobstruídas e definitivamente, não ficam em boas condições. Não é por acaso que eu vejo tanta gente a coxear e de muletas na rua. Tem dias que é mesmo complicado circular, parece que nos estenderam um longo tapete de cascas de banana para nós nos podermos divertir à vontade. Ou não. Ainda se ao menos desse para comer as bananas (o: Às vezes quando tenho pressa, não acho mesmo piada nenhuma. Adiante.
Com uma ou duas pessoas a atravessar os caminhos estreitos e a neve a derreter, tornando tudo numa pista de gelo escorregadia e irregular, estão reunidos os ingredientes para um dia de pesadelo para todos os ciclistas que se aventuram nesses dias. Está bom de ver que eu sou um deles. Afinal, é o meu desporto radical. Nem paus nem pedras, nem frio nem gelo me demovem do meu objectivo. Chegar à escola a tempo e horas. Legendas não são necessárias. As fotos falam por si.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Ciências: unidades de mensuração

As fotos que se seguem dizem respeito a experiências sobre unidades de mensuração que preparei quinze dias atrás para os alunos mais velhos de Birralee (9º-11º anos). Estes estudam num outro edifício com o nome de Middle School, situado nos arredores da cidade. As minhas peripécias de bicicleta na neve e gelo ocorrem na sua maioria, a caminho desta escola.
É mais ou menos meia hora de bicicleta desde a minha casa até lá. A andar bem! (o: O que é bom para mim, pois o caminho tem uma certa inclinação e assim faço no minímo uma hora por dia a pedalar. Juntem-lhe neve, gelo, caminhos estreitos para onde os limpa-neves atiram com a neve da estrada, pisos ora escorregadios ora irregulares, pedestres distraídos, condutores como os daí (e está tudo dito!), o facto de ir sempre carregado com coisas da escola e às oito da manhã, quando ainda nem sequer é de dia e outras delícias que não vale a pena contar e podem ver como me divirto todas as manhãs sempre que me desloco para a escola... é a minha versão de desportos radicais na neve.
Tinha um registo limpo quanto a quedas, mas lá acabei por cair um destes dias ao desviar-me de um carro. Entrei para uma cova de um trilho de pneus dos carros. Quando o gelo está a diferentes temperaturas(que nos últimos dias chegaram aos 20 graus negativos, um recorde, desde o início da minha estadia aqui), a probabilidade de se cair aumenta substancialmente, o que acabou por acontecer mesmo dessa vez. Não obstante esse pequeno percalço, devo dizer que me considero-me bastante bom neste desporto radical! (o:
As estações de experiências que preparei diziam respeito a uma lição de física sobre unidades de mensuração: tempo, massa, densidade, volume e distância. Foram experiências interessantes de realizar e os alunos aprenderam e divertiram-se simultaneamente, o que é sempre de assinalar. Infelizmente as experiências que envolveram a manipulação de liquídos deixaram algumas das mesas num estado um pouco lastimável no final das experiências, mas por muito que se diga e avise, outra coisa também não era de esperar.
Na semana seguinte procedi de forma semelhante, mas as experiências foram desta feita sobre o som. Os alunos divertiram-se imenso a descobrir os segredos do som através de diversas experiências: recriar uma escala de oitavas, criar um telefone rudimentar, pondo-se na pele de Graham Bell, entre outras. Os resultados foram assaz satisfatórios.


Legenda: Michael e Maria, junto à mesa de ténis de mesa, medindo distâncias entre diferentes partes do edifício. O objectivo era determinar quantos metros percorriam cada dia na escola.

Legenda: Christiana e Sharzad (este nome parece invulgar, mas é de origem persa e em português é equivalente a Sherazade) fazendo uma experiência sobre a densidade de diferentes materiais. Três líquidos e três objectos sólidos, diferentemente distribuídos, segundo as suas próprias densidades vertidos num recipiente. Não consegui determinar, mas talvez a rolha (um dos sólidos) fosse de origem lusitana.

Legenda: Asmita (do Nepal) e Isabel (do Zimbabwe) preparando-se para iniciar a experiência sobre o volume. As diferentes proveniências de muitos dos alunos (e também dos professores), são um dos factores que enriquecem e muito a atmosfera em que as aulas se processam normalmente.

Legenda: Linni e Veera (da Finlândia) na estação relativa ao tempo. Aqui o objectivo era determinar quanto tempo a areia da ampulheta demorava a passar de um lado para o outro e depois em determinar quantas vezes seria necessário virar a ampulheta para ter um registo preciso das horas, sem o auxílio dos modernos relógios.

Legenda: Juni (estudante recentemente transferida para esta escola) e Katrine (que anteriormente viveu no Dubai) na estação relativa à mensuração da massa. O objectivo era medir diferentes moedas com uma balança de precisão (que afinal não era assim tão precisa, mas enfim) e fazer diferentes cálculos, como por exemplo, quantas moedas de 10NKr se podem encontrar num quilograma de moedas de 10 NKr.

Legenda: Michael e Maria determinando o volume de vários poliedros (com orifícios para se encherem de água, através do auxílio de cilindros graduados). Num dos poliedros o volume foi calculado através do auxílio de uma régua e depois o seu valor foi comparado ao do volume resultante do enchimento com água do respectivo poliedro.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Seven

Outro poema em inglês que escrevi por cá. Bom, mas a pedido de várias famílias, os próximos são em português! (o:
Seven 15-12-06
Seven are the days of the week
Seven, the number written on that lid
Seven steps before the grid
Lives the crow that cannot read
Seven ways to unleash greed
Seven demons to feed
Seven words of need
Meadows of poppies in the evening
Seven suns over the horizon
Seven moans across the valleys
Seven phones ringing in alleys
An old oak’s branches swinging back and forth
Seven sins that were set
Seven seems a number to forget
Seven is the number you just met
The cold grass turning red you admire
Seven drops of blood of the friar
Seven breaths of fire
Seven were the lies of the liar
A dead body with a story to tell
Seven pathways to hell
Seven angels that fell
Seven times rang the bell
A man walking away in the distance
Seven winds fasten his movement
Seven promises not to look back
Seven farewells in the horizon
Washing away the guilt
Seven tears to remember, in a world full of anger
Seven fears in a chamber
Seven words of amber

Autor: Pedro Luís Laima Bicho.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Broas de azeite

E perguntam vocês, o que são broas de azeite? São umas broas muito simples de fazer. Como desde que cheguei a estas paragens tenho feito diversas "experiências científicas" aproveitando-me da boa vontade dos norugueses e norueguesas em provar os meus bolinhos, já posso juntar os bolos à minha lista de truques que sei fazer. Pelo menos, ainda não me morreu nenhuma cobaia na escola Birralee e na Middle School, onde estudam os alunos mais velhos. Aliás, os miúdos da escola ficam sempre com uma cara muito satisfeita depois de comerem os bolinhos, mesmo eu dizendo que não estão grande coisa. Acabo por ter sempre de improvisar um pouco, pois alguns ingredientes são por vezes difíceis, senão impossíveis de encontrar. O mesmo vale para as sopas que também já fiz por cá, sobre as quais falarei numa outra ocasião. Fazem parte da campanha de divulgação da cultura portuguesa que estou a "tentar" levar a bom porto. Se sai bem ou não, não sei. Mas que não ficam indiferentes, isso é um dado garantido. A experiência seguinte foi feita hoje à tarde em casa. Atenção, as imagens que se seguem poderão ser eventualmente chocantes. Se tiver um coração fraco, por favor não continue a ler estas linhas.
Legenda: Bom, então não é facilmente impressionável. Óptimo. Mas atenção. As imagens que se seguem são ainda mais fortes!! Após fazer a massa, pincelar com um pouco de gema de ovo e meter umas amêndoas a enfeitar, aí vão as broas na sua missão heróica para dentro do forno. Será que vão sair em condições?!!
Legenda: Bem, quanto mais se suja, mais se lava... a não ser que haja uma máquina de lavar loiça por perto!! Abençoada máquina! (o:


Legenda: O produto final. O sorriso estampado na cara do artista. Alguém quer um bolinho?
Legenda: E pronto. Uma pilha de broas de azeite prontinhas a servir. Dezassete, no total. Enormes, não fazem ideia. Tentei fazê-las mais pequenas, mas a verdade é que sem balança em casa, foi tudo feito a olhómetro. A massa estava muito pegajosa, agarrava-se-me aos dedos, pelo que a solução mais prática foi fazer menos broas, mas maiores. Acho que ficaram razoáveis. Ofereci a umas norueguesas que moram cá em casa e gostaram. Acho que foram sinceras. Pelo sim, pelo não, mantive-me alerta para ver se havia efeitos secundários ou se eram boas para comer. Não fizeram caretas nem vi nenhuma ir à casa de banho nos minutos seguintes, pelo que dei a experiência como aprovada (o:
Legenda: Claro que escolhi o melhor bolinho para mostrar na foto. Mas digam lá se tem ou não tem bom aspecto? (o:

Aqui fica a receita para os mais afoitos:

Broas de azeite

Ingredientes (20 broas): 0.5kg de farinha ; 250g de açúcar ; amêndoas ; 4 ovos ; uma pitada de sal ; uma chávena de azeite.

Preparação: misturar três ovos com o açúcar. Juntar o azeite. Mexer tudo. Juntar a farinha e misturar tudo muito bem. Separar a gema da clara do ovo restante. Bater a gema e pincelar a parte de cima de cada broa com um pouco de gema de ovo. Juntar uma ou duas amêndoas, a gosto. Levar ao forno quinze minutos até as broas ficarem com um aspecto dourado.

domingo, 4 de fevereiro de 2007

Latin Festivalen

Realizou-se de 27 a 29 de Janeiro de 2007 em Trondheim um festival de música latina. O evento decorreu no Royal Garden, o maior hotel da cidade, situado junto a uma das margens do rio Nidelva. Neste amplo e bem cuidado espaço interior decorriam simultaneamente vários espectáculos, nos diferentes palcos disponíveis. De música, mas não só. O preço foi bastante caro, contudo. Para entrar, tive de pagar a módica quantia de 300NKr, que dava acesso a todos os palcos onde decorriam os diferentes espectáculos. Mais informações disponíveis em: www.latinfestivalen.no












Legenda: Três bailarinas de Flamengo. O vermelho dos seus trajes contrastava e de que maneira com o nevão que caía na rua, onde a neve tinha uns bons dois palmos de altura.




Legenda: Katia Cardenal, da Nicarágua. Uma voz timbrada, doces melodias, com princípio, meio e fim. Gostei. Fizeram os meus olhos brilhar uma e outra vez, em mais do que uma passagem.


Legenda: os inevitáveis grupos de capoeira. Muito populares, por estas paragens. Segundo se diz, este misto de dança/artes marciais terá sido a forma dos escravos negros das senzalas brasileiras praticarem entre si técnicas de auto-defesa, pois não lhes era permitido possuir quaisquer tipos de armas. À parte o instrutor, creio que todos os praticantes eram noruegueses, o que atesta bem da popularidade da capoeira em Trondheim. Muito agradável de ver e ouvir.



Legenda: A encerrar a noite, no palco principal: os cubanos Elito Revé y su Charangón. Se não me enganei a contá-los, eram quinze. Nesta altura, as cadeiras já tinham sido todas retiradas e foi possível um pé de dança ao ritmo latino da salsa. Eu tentei, mas a certo ponto, já estava no mais bem acessivel ritmo disco: no rules apply (o:

Legenda: Inevitavelmente, uma foto minha. Devo dizer que fui muito bem acompanhado para a festa. Nada mais nada menos do que quatro norueguesas... se bem que só uma é que era loira, mas enfim. Não se pode ter tudo! (o:

Para além dos já mencionados espectáculos, também assisti a partes de dois outros: Tom's diner, em que o cantor era um norueguês, por certo já na casa dos sessenta, mas possuidor de uma vitalidade e ritmos extraordinários, que contagiava o público com as suas melodias latinas. E sem sotaque, o que é assinalável. Gostei particularmente de um outro grupo chamado Semblanza. A vocalista, também ela norueguesa, mas dominando perfeitamente a língua de Cervantes. Tinha uma voz muito bem colocada, gostei bastante.

Por fim... não era para falar disto, mas pronto. No início da noite existiu um minicurso de salsa. Está bem de ver que eu fui a correr experimentar. Após quinze frustrantes minutos, trocando de par e trocando os pés a uma velocidade estonteante, decidi que já chegava de vergonhas por uma noite. Passei a observar tudo e todos de uma distância segura, sentado numa rica cadeira (o: Duas ilacções: nada é tão fácil quanto à primeira vista possa parecer. Tudo dá trabalho e tudo leva o seu tempo. A segunda ilacção: como não pisei ninguém, julgo que o saldo foi positivo. Estou pronto para a fase dois!! (o: